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O que é isto - a Filosofia

 

 

     A palavra grega philosophia remonta a palavra philosóphos. Originarialmente esta palavra é um adjetivo como philárggros,o que ama a prata, como philótimos, o que ama a  honra, a palavra philósophos foi pressumivelmente criada por Heraclito.Isto quer dizer que para Heráclito ainda nao existe a  philosophia. Um anér philósophos nao é um homem "filosófico".o Adjetivo grego philósophos siginifica algo absolutamente diferente filosófico, philoosofique.  um anér philósophos  é aquele, hòz philei tò sophón, que ama a sophón;  philein  significa aqui, no sentido de Heraclito: homologein,  falar assim como o  Lógos  fala, quer dizer, corresponder ao Lógos. Este corresponder está em acordo com o sophón.Acordo é harmonia. O elemento específico de philein amor, pensado por Heráclito é a harmonía  que se revela na recíproca integração de dois seres, nos laços que os unem originariamente numa disponibilidade de um para com o outro.

       O anér philósophos ama o sophón. O que esta palavra  diz para Heráclito é difícil traduzir. Podemos porém elucidá-lo a partir da própria explicação de Heráclito.De acordo com isto tò sophón signifgica:  Hèn Pánta "Um (é)  Tudo" . Tudo que dizer aqui: Pánta ta ónta , a totalidade, o todo do ente. Hén, o Um, designa : o que é o um, o único, o que tudo une. Unido é, entretanto, todo ente no ser.O sophón dignifica: todo ente é no ser.Dito mais precisamente, o ente é o ser. Nesta locução o "é" traz uma carga transitiva e designa algo assim como "recolhe".O ser recolhe o ente pelo fato de que o é o ente.O ser é recolhimento -Lógos

        Todo ente é no ser .Ouvir tal coisa soa de modo trivial em nosso ouvido, quando não de modo ofensivo.POis, pelo fato de que o ente ter seu lugar no ser ninguém precisa preocupar-se.Todo mundo sabe: ENTE É AQUILO QUE É . qual a outra solução para o ente a não ser esta: ser? E Entretanto: precisamente isto, que o ente permaneça recolhido no ser, que no fenômeno do ser se manifesta o ente; isto jogava os gregos no espanto, e a eles primeiro unicamente, no espanto.Ente no ser: isto se tornou para os gregos o mais espantoso.

       Entretanto,mesmo os gregos tiveram que salvar e proteger o poder do espanto deste mais espantoso - contra o ataque do entendimento sofista , que dispunha logo de uma explicação, compreensível para qualquer um, para tudo e a difundia.A salvação do mais espantoso - ente no ser- se deu pelo fato de que alguns se fizeram  a caminho de sua direção, quer dizer, do sophón. Estes tornaram-se por isto aqueles que tendiam para o sophón  e que através de sua prorpia aspiração despertavam nos outros hoemns o anseio pelo sophón e o  matinham aceso o philein tò sophón, aquele acordo com o sophón de que falavamos acima, a harmonia, transformou-se  em órecsis, num aspirar pelo sophón.O sophón - o ente no ser -  é agora propriamente procurado.Pelo fato de o philein  nao ser mais um acordo originário como o sophón, mas um singular aspirar pelo sophón, o philein tò sophón torna-se "philosophia".Esta aspiraçao é determinada pelo EROS.

       Uma tal procura  que aspira pelo sophón, pelo hén pánta, pelo ente no ser se articula agora numa questao: o que é o ente enquanto ente?

Somente agora o pensamento torna-se "filosofia" Heráclito e Parmênides ainda não eram "filosófos".Por que não? Por que eram os maiores pensadores."Maiores" nao designa aqui o calculo de um rendimento, porém , aponta para outra dimensão do pensamento.Heraclito e Parmênides eram "maiores" no sentido de que ainda se situavam no acordo com o Lógos, que dizer com Hén Pánta. O passo para  a"filosofia", preparado pela sofística, só foi realizado por Sócrates e Platão. Aristóteles, então, quase dois seculos depois de Heráclito, caracterizou este passo com a seguinte afirmaçao: kai dè kai tò pálai te kai nyn kai aei zotóumenon kai aei  aporoúmenon, ti tò ón? (Met. Z 1, 1028b 2s).Na tradução isso soa: "Assim,pois, é aquilo para o qual a (filosofia) está em marcha ja desde os primórdios, e também agora e para sempre e para o qual sempre de novo nao encontra acesso( e que é por isso questionado): o que é o ente?" (ti tò on)."

      A filosofia procura o ente enquanto ente.A filosofia está a caminho do ser do ente, quer dizer, a caminho do ente sob o ponto de vista do ser.Aristóteles elucida isto, e acrescentar uma explicação ao ti tò ón, o que é o ente?. na passagem acima citada: toutó esti tis he ousia?. Traduzido:" isto(a saber ti tò ón)significa: que é a entidade do ente?" O ser do ente consiste na entidade.Esta porém - a ousia- é determinada por Platão como idéia, por Aristoteles como enérgeia .

       De momento ainda não é necessário analisar mais exatamente o que Aristóteles entende por enérgeia e em que medida a ousia se deixa determinar pela enérgeia. O importante por ora é que prestemos atenção como Aristóteles delimita a filosofia em sua essência. No primeiro livro da "Metafisica" (Met.A2 982 b 9s) o filósofo  diz o seguinte: a Filosofia é epistéme tõn prõton archõn kai aitiõn theoretiké. traduz-se falcimente epistéme por "ciência" .Isto induz ao erro, porque, com demasiada facilidade, permitimos que se insinue a moderna concepçao de "ciencia".A traduçao de epistéme por "ciência" é também  entao enganosa quando entendemos "ciencia" no sentido filosofico que tinham em mente Fichte, Schelling e Hegel.A Palavra epistéme deriva do participio epistámenos.Assim se chama o homem enquanto competente e hábil (competência no sentido de apparternance).A filosofia  é episteme tis , uma espécie de competência, theoretiké, que é capaz de teorein, quer dizer, olhar para algo e envolver e fixar com o olhar aquilo que perscruta, é por isso que a filosofia é epstemé theoretiké. Mas o que é isso que ela perscruta?

 

Martin Heidegger

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 Lógos: Esta palavra sintetiza vários significados que, em português, estão separados, mas unidos em grego. Vem do verbo lego (no infinitivo: légein) que significa: 1) reunir, colher, contar, enumerar, calcular; 2) narrar, pronunciar, proferir, falar, dizer, declarar, anunciar, nomear claramente, discutir; 3) pensar, refletir; ordenar; 4) querer dizer, significar, falar como ora­dor, contar, escolher; 5) ler em voz alta, recitar, fazer dizer. Lógos é: palavra, o que se diz, sentença, máxima, exemplo, conversa, assunto da discussão; pensar, inteligência, razão, faculdade de raciocinar; fundamento, causa, princípio, motivo, razão de alguma coisa; argumento, exercício da razão, juízo ou julgamento, bom senso, explicação, narrativa, estudos; valor atribuído a alguma coisa, razão íntima de uma coisa, justificação, analogia. Lógos reú­ne numa só palavra quatro sentidos: linguagem, pensamento ou razão, norma, ou regra, ser ou realidade íntima de alguma coisa. No plural, lógoi, significa: os argumentos, os dis­cursos, os pensamentos, as significações: -logía, que é usado como segundo elemento de vá­rios compostos, indica: conhecimento de, explicação racional de, estudo de. Diálogo, dialética, lógica são palavras da mesma família de lagos. O Lógos dá a razão, o sentido, o valor, a causa, o fundamento de alguma coisa, o ser da coisa. É também a razão conhecendo as coi­sas, pensando os seres, a linguagem que diz ou profere as coisas, dizendo o sentido ou o sig­nificado delas. O verbo lego conduz à idéia de linguagem porque significa reunir e contar: falar é reunir sons; ler e escrever é reunir e contar letras; conduz à idéia de pensamento e razão porque pensar é reunir idéias e raciocinar é contar ou calcular sobre as coisas. Esta unidade de sentidos é o que leva os historiadores da filosofia a considerar que, na filosofia grega, dizer, pensar e ser são a mesma coisa.

               CHAUI,M. Introduçao à História da Filosofia, Sâo Paulo,Companhia das Letras,2002